Para o dicionário Aurélio, o vocábulo, dentre outras aplicações, serve para designar "figura ou imagem que representa à vista o que é puramente abstrato". Eu não tenho mais (ou tenho e não encontrei) o dicionário de Celso Pedro Luft, mas, além de confiar no Buarque de Holanda Ferreira, a noção vulgar do significado da palavra que elegi para dar nome a este texto me parece seguramente adequada.
A busquei para refletir a respeito da remanescente e não mais infante (ainda que infantil) discussão a propósito da obra de construção do pretendido novo prédio para abrigar a Câmara Municipal de Vereadores de Santa Maria.
Eis lá, na Vale Machado, a estruturada intenção de novel palácio para sediar o parlamento da Boca do Monte, ao sabor dos ventos e das intempéries, a simbolizar bem mais que a indiferença com o escasso dinheiro dos homens e mulheres daqui.
Há mais conteúdos simbolicamente depositados naquele amontoado de concreto e ferro.
Da sua idealização já se denota o descompasso entre a realidade vivida pela população e o ritmo em que a vida corre no âmbito do legislativo municipal. Eis, portanto, simbolizada uma abundância que sequer conseguimos mensurar.
Do seu princípio, mesmo após projetado e liquidado o custo altíssimo para cofres frágeis como os nossos, se vê simbolizada a audácia de quem conta com a complacência de uma comunidade já acostumada aos desperdícios.
Ainda, do seu abandono, se percebe claramente simbolizada a indiferença para com a opinião dos financiadores de tudo o que na obra se encontra amontoado, fazendo falta em espécie ou in natura em infindáveis outros setores da miserável cidade.
Já da senda de prosseguir no erro até a conclusão do castelo parlamentar, se detecta simbolizada a insensibilidade diante das carências humanitárias de que o povo da cidade padece, onde tudo está faltando. Isto mesmo: aqui onde não se têm saúde a contento, segurança, iluminação, capacidade de mobilidade (não esqueçamos que transitamos entre intervalos de asfalto), o pouco que há corre o risco de ser dragado para construir, mobiliar e ornar os gabinetes de Suas Excelências.
Eu aqui fora estou, ou os de lá de dentro do atual edifício (central, amplo, climatizado, histórico e seguro) estão à orla da realidade aceitável.
Talvez a diminuição de cargos em regime de confiança, facilitando e melhorando o aproveitamento do espaço atual, assim como a racionalização de verbas como aquela destinada ao farto combustível mensal, dentre tantas outras, sendo direcionadas à manutenção tornassem mais confortável o prédio da Câmara, por exemplo.
E melhor inda: mais que simbolizar, materializaria a volta do respeito ao povo de Santa Maria o que, por ora, é abstração que nem à vista satisfaz.
Feliz Natal e próspero 2018 a todos.